O título acima foi, em grande parte, dado por Rafael Casé. É quase assim que ele intitula seu conto sobre um garoto que criou sentimento pelo Vasco por causa de seu pai. Vibrava nas vitórias, chorava nas derrotas. Vascaíno mesmo, com aquela gana e espontaneidade que só os garotos têm; ou os adultos que se retornam garotos. Eis que um belo dia acompanhou um tio botafoguense num jogo qualquer, nas Laranjeiras, já que a equipe da estrela solitária estava constelada por Didi, Nilton Santos, Quarentinha. E Garrincha. O menino viu Garrincha jogar. Desde aquele dia não torceu mais pelo Vasco da Gama. Nem pelo Botafogo. Passou a torcer pelo “Garrincha F. C.”. E quando Garrincha parou de jogar, o futebol para ele acabou.
Não que eu tenha deixado de ser cruzeirense depois que o Alex saiu do Cruzeiro. Mas depois de presenciar seus dois gols sobre o Fluminense, em 2003, a única vez que o vi em campo, nasceu para mim o Alex F. C. Tive mais sorte que Ademir, o garoto do conto. Influenciado por um tio na escolha do time de coração, vi meu ídolo maior brotar no meu time de coração. Aqui, supero até Nelson Rodrigues. Duvido que ele não se deleitaria ainda mais com lances de Zizinho pintados nas três cores do Fluminense. Não o podendo, restou admirá-lo sem se importar com o vermelho e o preto. O que não era difícil.
Há algum tempo descobri que os dois, Zizinho e Alex, nasceram no mesmo dia: 14 de setembro. E o que é ainda mais intrigante: as descrições de Nelson Rodrigues sobre o “mestre Ziza” valem milimetricamente para Alex. A crônica republicada nos primórdios desse blog poderia ser republicada hoje, sobre uma atuação de Alex.
Para mim, não é difícil admirar suas jogadas acompanhadas de cores que não o azul e branco. Até se vestisse a camisa branca e preta do Atlético Mineiro; um deleite seria possível, misturado com desprazer. Sempre negando a possibilidade de jogar no arquirrival de qualquer clube no qual fez história, Alex garantiu a sanidade sentimental de muita gente.
Por um bom tempo, os torcedores do Coritiba, Palmeiras, Cruzeiro, Atlético Paranaense, Corinthians e Atlético Mineiro foram privados de assistir uma partida inteira do Alex. Na Turquia desde 2004, tivemos que nos contentar com as transmissões de algumas partidas da Champions League de 2007-2008, quando o clube fez sua melhor campanha na competição, caindo nas quartas de final. Ou então acompanhar transmissões via internet, quase sempre sofríveis, do campeonato turco.
Outra opção era ir à Turquia para ver o jogo. Eu tentei, mas perdi o voo. Depois que o amigo turco cravou, com lamento, não ter conseguido ingressos para a partida, que sentido teria despencar para a Turquia? Que faria eu lá não fosse para ver, in loco, aquela pancada de fora da área ao quinze minutos do primeiro tempo? Mais bonito que que um, mas não tão bonito quanto o outro gol contra o Fluminense. “Futebol mesmo, só no estádio”, disse Carlos Drummond. No barzinho ao lado do Şükrü Saraçoğlu, vendo pela televisão, estaria infinitamente mais longe do campo que se estivesse no Brasil, acompanhando o jogo pela internet.
Cerca de um ano depois, eis que Alex vai jogar no estádio que está vinte minutos da minha casa; vou andando. Depois da tentativa fracassada de comprar ingresso, ontem, por informação errada do site (uma das inúmeras formas que as pessoas dizem “você está no Brasil”), farei outra tentativa hoje. E mais outra amanhã, se for o caso. Preciso ver Alex jogar.
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